segunda-feira, 27 de outubro de 2008


Refletindo, registrando...

Dizem os antigos que um pai cuida de dez filhos mas dez filhos não cuidam de um pai. Conversas de sertanejo. Vejam a história de Seu Leandro. O velho peão, já bem cansado, dado por velho demais pelo patrão, foi demitido e mandado desocupar a casinha onde se abrigava na fazenda. O jeito foi procurar o único filho que ainda morava ali perto, na cidade, e que era casado e tinha um filho de 8 anos, que lhes dessem um quartinho para passar o que seriam os seus últimos dias, que desconfiava não seriam muitos. Antes que o filho se pronunciasse a sua esposa, mulher de pouca doçura, espetou-lhe a faca nas costelas: nem pensasse em abrigar ali, no seu lar sagrado, aquele velho ignorante e fedorento, era ele entrar por uma porta e ela sairia pela outra para nunca mais voltar! Sempre dominado pelas vontades da megera, o rapaz logo se conformou. Acabrunhado, foi ao quintal e apanhou um couro de boi recém esticado e chamou o velho pai a um canto, desculpando-se por não ter condição de recebê-lo e oferecendo-lhe o couro, para que o velho nele se enrolasse e se abrigasse onde conseguisse algum lugar para se deitar. O garoto, que a tudo assistiu, esperou que o velho saísse e correu ao seu encontro, chorando e acenando. Queria um pedaço daquele couro, que o avô o dividisse ao meio, era couro demais, que ele tinha direito a um pedaço, e tanto chorou e exigiu que o velho, condoído, cortou o couro em dois pedaços iguais, dando um pedaço ao neto. O menino voltou para casa com a metade do couro enrolado e debaixo do braço, quando viu o pai na porta, observando. ¨Por que você ainda foi tomar um pedaço do couro do pobre homem, seu avô? Não basta sua mãe tê-lo enxotado daqui?”. Perguntou, cheio de amargura. “Pois é, pai, eu vou guardar esse couro até quando o senhor estiver velho, pois pode ser que lhe aconteça a mesma coisa e o senhor venha até a mim...”.

Essa história é contada em música por Tonico e Tinoco, acho.

Tolerando o Intolerante


Tolerando o Intolerante

Faz tempo me interesso pela natureza das pessoas intolerantes. Tentar compreender faz parte do esforço para tentar tolerar. Já descartei a idéia de que são intolerantes apenas porque acharam espaço. Não mimá-los nem sempre evita que se tornem intolerantes. Mas tenho bons indícios de que a genética contribui. Sugiro que a tolerância com os intolerantes ajude a sua proliferação. Intolerantes gostam de vangloriar-se de ter o pavio curto. Queimam-se com facilidade. Ai do mundo que não estiver de acordo com o que eles desejam. Ai da pessoa que não concordar com suas vontades, seus momentos e suas idéias. Dos tolerantes nasceram muitas tragédias da humanidade. Não se deve, pois, deixar que um intolerante detenha poder. Quando dois intolerantes se encontram logo se afastam. Eles se reconhecem com facilidade. O grande problema é quando um intolerante se camufla. Fazem isso, às vezes, para conseguir o que querem. Muitas vezes conseguem. Em seguida, porém, com habilidade, põem para fora sua nata intolerância. Não raro com um refém ao lado. Intolerantes são intoleráveis. Por terem essa exata noção antecipam-se. Fecham portas, criam muros, nunca fazem pontes. Pode-se fazer o maior esforço para entendê-los, procurando tolerá-los, mas será sempre um esforço inútil. Num contexto com tolerantes e intolerantes coitados dos tolerantes. É muito muro e porta fechada. E dinamite para explodir as pontes.