sexta-feira, 14 de novembro de 2008

0s amigos fazem a diferença



Existe uma história sobre céu e o inferno, e que hoje está esquecida. Um homem, seu cavalo e seu cão caminhavam por uma estrada. Quando passavam perto de uma árvore gigantesca, um raio caiu, e todos morreram fulminados. Mas o homem não percebeu que já havia deixado este mundo, e continuou caminhando com seus dois animais; às vezes os mortos levam tempo para se dar conta de sua nova condição...
A caminhada era muito longa, morro acima, o sol era forte, eles estavam suados e com muita sede. Numa curva do caminho, avistaram um portão
magnífco, todo de mármore, que conduzia a uma praça calçada com blocos de ouro, no centro da qual havia uma fonte onde jorrava água cristalina. O caminhante dirigiu-se ao homem que guardava a entrada.
__Bom dia.
__Bom dia, respondeu o guarda.
__Que lugar é este, tão lindo?
__Aqui é o céu.
Que bom que nós chegamos ao céu, estamos com muita sede.
__O senhor pode entrar e beber água à vontade.
E o guarda indicou a fonte.
__Meu cavalo e meu cachorro também estão com sede.
__Lamento muito, disse o guarda. Aqui não se permite a entrada de animais.
O homem ficou muito desapontado porque a sede era grande, mas ele não beberia sozinho; agradeceu o guarda e continuou adiante. Depois de muito caminharem morro acima, já exaustos, chegaram a um sítio, cuja entrada era marcada por uma porteira velha que se abria para um caminho de terra, ladeada de árvores. _À sombra de uma árvore, um homem estava deitado, cabeça com um chapéu possivelmente dormindo.
__bom dia, disse o caminhante.
__O homem acenou com a cabeça.
__Estamos com muita sede, eu, meu cavalo e meu cachorros.
__Há uma fonte naquelas pedras, disse o homem indicando o lugar. Podem beber à vontade.
__O homem, o cavado e o cachorro foram até a fonte e mataram a sede.
O caminhante voltou para agradecer. Voltem quando quiserem, respondeu o homem.
__Por sinal, como se chama esse lugar?
__Céu.
__Céu? Mas o guarda do portão de mármore disse que lá era o céu!
__Aquilo não é o céu, aquilo é o inferno.
O caminhante ficou perplexo. Vocês deviam proibir que eles usem o nome de vocês! Essa informação falsa deve causar grandes confusões!
De forma alguma; na verdade, eles nos fazem um grande favor. Porque lá ficam todos aqueles que são capazes de abandonar seus melhores amigos...

terça-feira, 11 de novembro de 2008


Estar feliz te deixa inquieta.Essa é uma verdade que você tem que lutar para mudar, mas ainda é uma verdade. Depois de meses se debatendo contra a constatação de que você é uma pessoa desconfiada.
Você destruiu um namoro que pra você, jamais passou de uma amizade profunda, após tanto tempo e uma existência pontuada pela sensação de incompletude, uma mente que não parava de se açoitar e cobrar, hoje você acha que conseguiu colocar o trem descarrilado no seu rumo. Andando, em frente, docemente balançando no seu próprio ritmo. Esse balançar te embala. E, estranhamente, te dá medo.O medo não vem pela possibilidade de perder o caminho ou cair, de novo, nos tons de cinza—é impraticável viver o hoje preocupando-se com o que está na esquina, fora do campo de visão. É perder o presente e contaminar o que virá. Estar feliz te deixa intranqüila por que acostumou-se a ter problemas, a ter sua cabeça preenchida por neuroses, preocupações, cobranças auto-inflingidas, lágrimas prestes a serem derramadas. Isso te entretinha. Sadicamente, te ocupou tanto com as tuas próprias tristezas que esqueceu de aprender como se faz pra ser feliz. Esqueceu como é dormir com alguém que te adora, acordar sem pressa e ficar maciamente ao lado daquela pessoa, cabeça encostada o peito. Desejar olhar seu rosto, beijá-lo, saber suas opiniões sobre cada insignificante e colossal assunto. Descobrir (com uma curiosidade borbulhante) os pequenos detalhes de sua história, os acontecimentos que o fizeram tremer. Como é não precisar impressionar nem se defender todo o tempo. Esqueceu como é bom submergir, vez por outra, em um silêncio íntimo que não necessita ser preenchido por palavras vagas. Passeou tanto tempo perdida em você desprezou como te é vital ser carinhosa, cuidar, ser cuidada. Esqueceu como o sexo pode ser repleto de tesão, paixão e abraços no final. Como é magnífico relacionar-se. Apaixonar-se. Esqueceu como é bom simplesmente ser.E a minha ausência te faz lembrar. Talvez por isso o medo, esse tolo inútil sentimento.
Sentir te deixa vulnerável: mas se proteger nunca te trouxe nenhum ganho. Na verdade você não quer se proteger de mim. Quer apenas estar tranquila estando feliz.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008


Refletindo, registrando...

Dizem os antigos que um pai cuida de dez filhos mas dez filhos não cuidam de um pai. Conversas de sertanejo. Vejam a história de Seu Leandro. O velho peão, já bem cansado, dado por velho demais pelo patrão, foi demitido e mandado desocupar a casinha onde se abrigava na fazenda. O jeito foi procurar o único filho que ainda morava ali perto, na cidade, e que era casado e tinha um filho de 8 anos, que lhes dessem um quartinho para passar o que seriam os seus últimos dias, que desconfiava não seriam muitos. Antes que o filho se pronunciasse a sua esposa, mulher de pouca doçura, espetou-lhe a faca nas costelas: nem pensasse em abrigar ali, no seu lar sagrado, aquele velho ignorante e fedorento, era ele entrar por uma porta e ela sairia pela outra para nunca mais voltar! Sempre dominado pelas vontades da megera, o rapaz logo se conformou. Acabrunhado, foi ao quintal e apanhou um couro de boi recém esticado e chamou o velho pai a um canto, desculpando-se por não ter condição de recebê-lo e oferecendo-lhe o couro, para que o velho nele se enrolasse e se abrigasse onde conseguisse algum lugar para se deitar. O garoto, que a tudo assistiu, esperou que o velho saísse e correu ao seu encontro, chorando e acenando. Queria um pedaço daquele couro, que o avô o dividisse ao meio, era couro demais, que ele tinha direito a um pedaço, e tanto chorou e exigiu que o velho, condoído, cortou o couro em dois pedaços iguais, dando um pedaço ao neto. O menino voltou para casa com a metade do couro enrolado e debaixo do braço, quando viu o pai na porta, observando. ¨Por que você ainda foi tomar um pedaço do couro do pobre homem, seu avô? Não basta sua mãe tê-lo enxotado daqui?”. Perguntou, cheio de amargura. “Pois é, pai, eu vou guardar esse couro até quando o senhor estiver velho, pois pode ser que lhe aconteça a mesma coisa e o senhor venha até a mim...”.

Essa história é contada em música por Tonico e Tinoco, acho.

Tolerando o Intolerante


Tolerando o Intolerante

Faz tempo me interesso pela natureza das pessoas intolerantes. Tentar compreender faz parte do esforço para tentar tolerar. Já descartei a idéia de que são intolerantes apenas porque acharam espaço. Não mimá-los nem sempre evita que se tornem intolerantes. Mas tenho bons indícios de que a genética contribui. Sugiro que a tolerância com os intolerantes ajude a sua proliferação. Intolerantes gostam de vangloriar-se de ter o pavio curto. Queimam-se com facilidade. Ai do mundo que não estiver de acordo com o que eles desejam. Ai da pessoa que não concordar com suas vontades, seus momentos e suas idéias. Dos tolerantes nasceram muitas tragédias da humanidade. Não se deve, pois, deixar que um intolerante detenha poder. Quando dois intolerantes se encontram logo se afastam. Eles se reconhecem com facilidade. O grande problema é quando um intolerante se camufla. Fazem isso, às vezes, para conseguir o que querem. Muitas vezes conseguem. Em seguida, porém, com habilidade, põem para fora sua nata intolerância. Não raro com um refém ao lado. Intolerantes são intoleráveis. Por terem essa exata noção antecipam-se. Fecham portas, criam muros, nunca fazem pontes. Pode-se fazer o maior esforço para entendê-los, procurando tolerá-los, mas será sempre um esforço inútil. Num contexto com tolerantes e intolerantes coitados dos tolerantes. É muito muro e porta fechada. E dinamite para explodir as pontes.